O ballet clássico é uma arte que surgiu no século 16, na corte do Rei Luis XIV, o Rei Sol, e nesses cinco séculos de existência atravessou inúmeros acontecimentos históricos, guerras, revoluções e toda uma mudança de comportamento, costumes e conceitos da humanidade. Apesar disso o Ballet Clássico ainda mantém nos dias atuais uma grande referencia com a sua origem.
Agripina Vaganova, em 1916 aposentou-se dos palcos e dedicou-se por 30 anos no desenvolvimento da “ciência do ballet”. Criou um método de ensino novo e dinâmico que produziu estrelas como Nureyev, Galina Ulanova, e mais tarde Nathalia Makarova e Michail Barysnikov. Esse método, que serviu como referência para a criação de outros métodos de ballet e outras escolas, continua sendo ensinado por todo o mundo.
As linhas estéticas, biotipo físico do bailarino e o virtuosismo, no entanto foram se modificando ao longo dos anos. A preferencias por linhas mais alongadas, pernas mais altas, movimentos mais amplos, e maior virtuosismo em saltos e giros são as características do ballet clássico nos dias de hoje.
Há alguns anos atrás os bailarinos usavam apenas as aulas de ballet para desenvolver suas habilidades físicas, técnicas, artísticas e musicais.
Em meados do século XIX as aulas de ballet tomaram a forma que conhecemos hoje e que praticamos todos os dias.
Iniciando na barra, com plies, passando por rond jambés, fondus, adágios, frappés e grand battements. Repetindo toda essa sequencia no Centro, incluindo allegros, grandes saltos, valsas e Codas.
Os ensinamentos eram passados aos alunos baseados nos ensinamentos e experiencias vividas pelos seus professores, e das gerações antecessoras, de forma empírica, com algumas modificações aqui e ali de acordo com as características individuais de um aluno.
Hoje os bailarinos não se comportam somente como artistas, seus corpos são exigidos e preparados quase como atletas.
Atualmente os professores de ballet tem recorrido ao estudo da anatomia e de informações que os ajudem a compreender melhor o funcionamento do corpo com o intuito de orientar melhor seus alunos durante as aulas de ballet.
De acordo com seus estudos, Emma Redding, chefe do departamento de ciência da dança no Conservatorio de Musica e Dança Trinity Laban, relata que as aulas de ballet são muito focadas no desenvolvimento apenas da técnica e desconsideram o desenvolvimento fisiológico como um todo (força e resistência). Por isso os bailarinos começaram a buscar trabalhos que pudessem complementar suas aulas diárias, como a Yoga, Pilates, Sppining e Gyrotronic. Buscaram uma forma de melhorar seu condicionamento cardiovascular, resistência (endurance) e a força que precisam para dançar, e também de prevenir lesões.
As aulas de ballet não têm uma característica em sua estrutura que possibilite o desenvolvimento cardiovascular necessário para um espetáculo, então observa-se uma melhora nessa habilidade quando ele adiciona um treino aeróbico a sua rotina, como por exemplo, uma esteira, bicicleta, pular corda ou natação.
Alguns pesquisadores brasileiros propuseram a utilização de Sets de exercícios ao final da aula, após a parte técnica do centro, que inclui uma sequência de exercícios de alta intensidade, como um allegro por exemplo, por 20 segundos, intercalado com 20 de uma atividade de recuperação, que pode ser um adágio ou um Port des Bras.
Esse intervalo irá desafiar o condicionamento aeróbico do bailarino mas ainda assim estará fazendo uso do gestual da técnica do ballet, utilizando os músculos que geralmente são mais requeridos por ele.
Outro ponto questionado, tem sido a duração dos exercícios de barra durante as aulas. Esse momento precisa ser mesmo tão longo e repetitivo? Haveria uma forma de “encurtar” esse momento realizando outras possibilidades de sequencias como unir os tendus e jetés, e os ronds e fondus nas mesmas sequencias?
E qual seria o benefício?
Muitos estudos mostram que a barra não é tão efetiva no treinamento dos bailarinos como se pensava. Uma pesquisadora da Universidade do Novo México concluiu com seus estudos que durante um developpé devant na barra, a perna de base trabalha de 50% a 60 % menos que do que no centro.
Os exercícios de Centro, mostram-se imprescindíveis para o treino e fortalecimento do CORE e das pernas de base.
Uma outra possibilidade que tem sido utilizada para melhorar a performance dos bailarinos, principalmente dos estudantes do ballet clássico é o estudo do movimento isolado. Treinar isoladamente os movimentos, as vezes com auxilio manual de um instrutor, ou de algum acessório como uma bola por exemplo, podem viabilizar a internalização e automação do movimento pelo bailarino.
O trabalho isolado também nos permite fortalecer os músculos separadamente, aumentando a sua força e resistência para que quando forem solicitados durante as aulas de ballet clássico eles tenham a capacidade de corresponder a necessidade.
As tradicionais aulas de chão e barra solo também sofreram modificações mediante as novas ideias e objetivos dos bailarinos. Exercícios de força muscular especifica e abdominais variados estão ao lado dos tradicionais exercícios de alongamento e flexibilidade.
Tradição e pensamentos modernos e atualizados podem andar lado a lado na formação dos bailarinos do século XXI. Aceitar novas condições de trabalho pode significar alcançar resultados nunca antes conhecidos. Pode significar possibilitar uma dança mais segura, consciente e livre de lesões.
O quanto podemos pensar fora da caixa? Até aonde podemos tratar bailarinos como atletas sem deixar que se perca a essência, a leveza, o drama e a arte contidos em um belo port-des-bras ?
Por Ana Carolina Ferreira Lima.