O ballet (e também a dança no geral), é uma atividade física muito difícil de ser dominada, porque, dentre outros motivos, requer muito do nosso corpo e além da constante repetição para que o movimento se torne perfeito! Sabe-se que muitos bailarinos têm dificuldade e mesmo medo de girar, especialmente nas pontas. Recomenda-se para isso, como tudo na vida, bastante treino!
Mas você sabe porque isso acontece e o que ocorre no nosso cérebro com a repetição dos movimentos? Será que só o treino funciona para melhorar a pirueta ou qualquer outro tipo de movimento? É sobre isso que falaremos nesse post. O exemplo principal desse post será a pirueta no ballet clássico, mas você pode usar esse conhecimento para qualquer outro tipo de movimento, seja do ballet, seja de outra dança, seja de qualquer outra atividade.
Dominar qualquer habilidade motora, que pode ser desde uma pirueta, lançar uma bola de beisebol, tocar algum instrumento, requer prática. A prática pode ser definida como a repetição de uma ação com o objetivo de aperfeiçoá-la, para então ter uma execução mais natural, veloz e com confiança.
A prática altera o nosso cérebro da seguinte forma: o nosso cérebro possui massa branca e massa cinzenta. Os axônios existentes na massa branca são envolvidos por uma substância, a mielina. É este revestimento de mielina ou bainha que se altera com a prática. A mielina é semelhante ao isolamento dos cabos elétricos. Impede a perda de energia dos impulsos elétricos que o cérebro usa, movendo-os de uma forma mais eficiente, ao longo das vias neurais.
Estudos recentes sugerem que a repetição de um movimento físico aumenta as camadas de mielina que protege os axônios. Quanto mais camadas, maior será a proteção em torno das cadeias de axônios, formando-se uma espécie de autoestrada para a informação, ligando o cérebro aos músculos.
Comumente muitos atletas costumam dizer que o seu corpo tem uma memória muscular e que por isso eles obtêm o sucesso. A verdade é que tecnicamente os músculos não tem uma memória. Mas poderá ser a mielinização das vias neurais que faz com que esses atletas tenham vantagem pelas suas rápidas e eficientes vias neurais.
Mas, então, vocês podem querer saber se existe um número de horas, dias e anos de prática para ter uma melhora em alguma coisa. Por exemplo, quantas horas por dia eu preciso treinar para melhorar minhas piruetas? A verdade é que seria muito bom que existisse esse número mágico, mas ele não existe. Masterizar qualquer atividade não depende só de um número de horas, mas também da qualidade e a eficácia dessa prática serão fundamentais para isso.
A prática eficaz é consistente, intensamente concentrada e revela os conteúdos ou fraquezas que se encontram presentes nas capacidades de cada um. Portanto, se a prática eficaz é essencial, você precisa tirar o máximo proveito desse tempo de prática, fazendo essas dicas bastante simples:
1. Concentre-se na tarefa que tem em mãos. Se você está treinando um passo de ballet que você deseja melhorar, não fique entrando no celular toda hora, por exemplo. Mesmo que você esteja fora da sua hora de aula, mesmo que o seu professor não esteja lá, se comporte da mesma forma que você se comportaria se estivesse. Afinal, você não usa o celular durante a aula o tempo todo não é?
2. Comece devagar. Isso porque a coordenação é criada com repetições, quer estas estejam corretas ou não. Se for aumentando gradativamente a velocidade da qualidade das repetições, terá mais chance de faze-lo corretamente. Lembre-se de que o ballet nos exige não só a quantidade, mas a qualidade do movimento! Para as piruetas, você pode começar fazendo apenas a pirueta simples até ela ficar perfeita, e aí, então, ir aumentando a quantidade. De nada vale fazer quatro, cinco piruetas se você não termina com limpeza, por exemplo.
3 Em seguida, repetições frequentes com muitos intervalos, que são práticas comuns de artistas de elite. Estudos demonstram que muitos dos atletas, músicos ou bailarinos gastam por semana de 50 a 60 horas em atividades relacionadas à sua arte. Muitos usam o seu tempo usado para praticar em múltiplas sessões de treino diário com uma duração limitada.
4. Por último, pratique usando a visualização mental do passo a passo daquilo que você deseja melhorar com todos os detalhes (por exemplo, se eu quero melhorar a minha pirueta en dehors de quarta posição, eu vou me imaginar na sala de aula, preparando a quarta encaixada, fazendo aquele relevé passé ágil, puxando pra cima, marcando cabeça, dando energia no braço, tudo ao mesmo tempo, e só ao final, descendo da ponta. Imaginarei também quantos giros eu vou dar. Se pirueta simples, dupla… Só isso, né!). Por mais estranho que possa parecer, estudos sugerem que depois de um movimento físico ter sido estabelecido ele pode ser reforçado ao ser imaginado.
Tudo isso faz justificar porque treinar vai ser tão importante para nós no ballet! Mas não basta só treinar! O treino tem que ser da maneira correta, com a devida consciência do movimento e daquele momento que você tirou para a prática dele. Se não, não vale de nada e você só perdeu tempo.
Alem disso tudo, a repetição pode trazer outros benefícios para nós bailarinos. A repetição, além de fazer você entender o movimento e masterizá-lo, vai, a longo prazo fazer com que a sua técnica melhore, que você dance de forma mais limpa, natural e segura, pois o seu corpo vai ter guardado como executa.
Outra vantagem dessa repetição, é que a nossa técnica funciona basicamente por progressão. Então, além desse processo todo explicado acima, você pode ir progredindo de um movimento mais fácil para um mais difícil. Por exemplo, primeiro você pode começar em relevés passés na barra, testando o seu balance, depois você pode fazer pirueta simples na barra, depois ir para o centro. Primeiro o processo na meia ponta, depois na meia ponta. Então, quanto mais você repetir, além de melhorar um determinado passo, você pode ir acrescentando graus de dificuldade, até que quando você ver, você está girando 32 fouettés. Mas, lembro que isso só vai funcionar se você de fato treinar de forma eficaz. Não vai adiantar treinar desconcentrada, sem preparar seu corpo para dançar, sem se aquecer antes, etc. Não adianta repetir, repetindo o mesmo erro sempre! Você tem que ter a consciência do seu erro, seja porque você já percebeu, seja porque seu professor já te orientou, e corrigi-lo. Dessa forma, você vai acabar com os vícios que o seu corpo pode ter ao executar o que você deseja melhorar.
Por fim, outro benefício que essa repetição vai te trazer e te fazer melhorar como bailarino é decorar as sequências. Já percebeu que muitas vezes a gente não executa bem o passo porque não decorou a sequência que o professor passou? A gente só aprende de fato a sequência depois que repete. E isso de fato, também vai ter como consequência a melhora da sua técnica. Na verdade, todos esses benefícios citados aqui vão ter essa consequência. E disso, pode resultar você subindo de níveis como bailarino, saindo de um nível intermediário, para um nível avançado, por exemplo.
Tenho certeza que depois que você aplicar tudo isso você vai melhorar o que você quiser! Basta saber que não vai ser do dia para a noite! Então, vamos treinar?