A pantomima no ballet clássico

Recentemente em nossos stories, falamos um pouquinho sobre como a pantomima ajuda a contar e a entender as histórias dos ballets de repertório e questionamos se vocês conseguem entender mesmo pelos gestos essas histórias.

Então, neste post iremos aprofundar um pouco mais sobre o assunto, contando quem desenvolveu essa arte, quem trouxe para o ballet e alguns exemplos de gestos usados nos ballets e os seus significados para que você possa a partir de agora entender ainda melhor as histórias contadas nos repertórios.

Primeiramente, a pantomima, de uma forma bem simplificada, é uma arte baseada no gestual e nas expressões faciais. O artista se comunica basicamente usando apenas a linguagem corporal por meio de expressões e mímicas, usando pouquíssimas palavras ou ainda sem usá-las.

Quanto à sua história, a arte da pantomima é bem antiga e começou lá na Antiguidade Clássica nos teatros gregos e romanos, época em que se popularizaram os gêneros teatrais da sátira, comédia e tragédia.

As tragédias foram traduzidas para o latim por Lívio Andrônico entre 240 e 207 AC. Ele era um excelente ator que levava o público ao delírio, exigindo a repetição de certas passagens. Como às vezes a rouquidão o impedia de fazer essa repetição, outro ator se encarregava de fazê-lo, enquanto ele apenas fazia os gestos correspondentes.

Essa teria sido a origem da pantomima romana, um gênero de enorme sucesso durante a República e o Império.

Sua essência consistia em transmitir  o enredo de uma peça sem usar a palavra, valendo-se apenas da expressão corporal. O espetáculo era acompanhado por música do começo ao fim e o pantomimo marcava o ritmo, usando uma placa metálica na sola dos seus pés.

O gênero ganhou bastante popularidade em todas as regiões conquistadas pelos romanos, especialmente na Gália. Mas encontrou no Cristianismo um grande empecilho. A religião se tornou a oficial a partir de 312, com a coroação do imperador Constantino.

Assim, a partir do século IV, a pantomima entrou em decadência, sobretudo na cidade de Roma, sede do papado. Entretanto, nunca desapareceu por completo e iria deixar traços decisivos no teatro e na dança, além de ter continuado como forma cênica independente.

Mas, se foi rejeitada pelo classicismo, encontrou novo solo fértil com o romantismo. A partir daí temos o seu renascimento como forma teatral independente. Não só no teatro, também na dança o seu papel foi decisivo.

Na dança foi Jean-Georges Noverre, por meio de seu conceito de “ballet de action” , que revalorizou a pantomima. Se antes, o ballet era uma arte dependente de outras como a Ópera e a comédia e os bailarinos usavam máscaras, a pantomima foi fundamental para a independência do ballet em relação às outras artes.

A partir de Noverre, os bailarinos não usariam mais as máscaras de outrora e se expressariam por gestos, mímicas e expressões corporais, sem o uso de falas. Ele exigiu que o bailarino não fosse um mero executor de passos, mas que verdadeiramente contasse a história e mergulhasse no personagem que estava interpretando. Já que para este coreógrafo, os espetáculos de ballet tinham que contar uma história, todas os atos deveriam contar com cenas dramáticas e todos os personagens tinham que participar ativamente da narrativa.

Esses conceitos de Noverre foram que construíram as noções que hoje temos de Ballet de Repertorio e não é por acaso, que até hoje vemos nos ballets a presença das pantominas nas “mise en scènes”. São elas que ajudam a contar a história e além disso, há gestos que praticamente são conhecidos por qualquer lugar do mundo em que o ballet for dançado. A pantomima, então, de certa forma, se tornou uma linguagem universal dentro do ballet clássico.

Todos conhecem, por exemplo, os gestos abaixo, que simbolizam, casamento, por favor, “vamos dançar”, porque, morte, medo, promessa, amor, dentre muitos outros que são vistos nos ballets. Eles contam a história sem falar uma palavra se quer.

Sem esses gestos você não saberia que a Odette nada num lago cheio das lágrimas da mãe, ou que Giselle tem um coração fraco, ou que o pai de Kitri quer que ela se case com Gamache contra os seus desejos.

 

Esses são apenas alguns exemplos da pantomima. A partir de agora, tente reparar a presença desses gestos no ballet e como eles verdadeiramente contam a história que se passa no ballet e tenho certeza que você irá compreender muito melhor o que está acontecendo naquele enredo.

 

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