1) O ballet La Sylphide marca o início da Era Romântica. Assim como tivemos o Romantismo na literatura e em outras artes, em que havia a idealização do amor e da figura feminina, da elevação do espírito, a dualidade entre os vivos e o sobrenatural. Por isso mesmo que nos ballets dessa época vemos a mulher como o centro das atenções e sempre há criaturas míticas, como as Willis em Giselle e as próprias sylphides em La Sylphide, as dríades em Dom Quixote, as sombras de La Bayadere.
2) La Sylphide é o primeiro ballet dançado nas pontas e é decorrência da Era Romântica, em que a figura feminina era idealizada, quase que inatingível. As pontas foi um perfeito instrumento para dar a ideia de que a bailarina, personagem principal, era mesmo inalcançável, digna de uma beleza e uma leveza indescritíveis, pois a ponta daria a ideia de que a bailarina pareceria flutuar, casando perfeitamente com o personagem da Sylphide.
3) Neste ballet somente a primeira bailarina usava as pontas (ao menos na primeira versão dele). Mais tarde, outros ballets viriam a usar pontas também, mas com todas as bailarinas, principal e corpo de baile, usando.
4) Foi um ballet feito por Phillippe Taglioni, maître de ballet italiano que lecionava na Ópera de Paris para a sua filha Marie Taglioni. A ênfase desse ballet eram os braços e o trabalho de pontas, características que ele queria enfatizar na sua filha e que fez com que ela fosse muito reconhecida pelo público.
5) Embora Marie Taglioni seja apontada muitas vezes por ser a primeira a dançar nas pontas, isso não é verdade. Antes de Marie Taglioni dançar na ponta em La Sylphide, as bailarinas Geneviève Gosselin e Evdokia Istomina, o fizeram primeiro na mesma época. Elas foram as primeiras, mas foi Marie quem se tornou o grande símbolo da por seu enorme sucesso de La Sylphide.
6) O primeiro que dançou ao lado de Taglioni foi Joseph Mazilier, no papel de James, que mais tarde faria as primeiras versões de Paquita, Corsário e muitos outros.
7) Esse ballet fez com que Mari Taglioni ficasse conhecida por “bailarina cristã”. Marie foi amada pelo público e lotava a casa, mas para fazer a Ópera de Paris ganhar mais bilheteria, logo trataram de arrumar uma outra bailarina para ser sua “rival”. Essa bailarina era Fanny Elssler, que ficou conhecida como “bailarina pagã”.
8) Marie Taglioni ficou famosa depois de dançar esse ballet, mas não foi o primeiro que ela dançou. O primeiro ballet dançado por ela foi “A recepção de uma ninfa na corte de Terpsícore”, também coreografado por seu pai. Mas a sua estreia nos palcos foi um fiasco.
9) Marie Taglioni, embora tenha se tornado uma estrela do seu tempo, seu físico não a ajudava; foi considerada fraca, muito magra, tinha a coluna torta (o que fazia com que inclinasse para a frente) e tinha proporções levemente distorcidas. Depois do fiasco da sua estreia, seu pai a treinou à exaustão por seis meses. Seus treinos consistiam em duas horas pela manhã, com exercícios difíceis focados nas pernas e duas horas no período da tarde, com foco nos movimentos do adágio que a ajudariam a refinar poses no ballet. Ela trabalhou duro para disfarçar suas limitações físicas, aumentando a amplitude de movimento e desenvolvendo sua força. Taglioni concentrou sua energia em sua forma e forma para o público e menos em truques e piruetas de bravura, alcançando uma técnica excelente para interpretar o papel principal La Sylphide.
10) Foi o primeiro ballet dançado no Brasil, aqui no Rio de Janeiro em 1848. Mas nessa época ainda não era o TMRJ. Não foram brasileiros que o dançaram aqui pela primeira vez, porque ainda não tínhamos uma escola de dança com bailarinos brasileiros. O ballet foi dançado por Anna Trabatoni e Eugène Finart, bailarinos italianos que se apresentaram no Teatro São Pedro de Alcântara (hoje Teatro João Caetano) durante o reinado de Pedro II, que foi um grande incentivador das artes.
11) A versão de Phelippe Taglioni de 1832, acabou se perdendo com o tempo e só em 1972 que Pierre Lacotte a refez, com base em documentos manuscritos do próprio maître Taglioni encontrados por ele. Isso porque, em 1836 August Bournonville fez a sua própria versão do ballet, com a mesma história, mas com coreografia distinta. Esta versão foi do Royal Danish Ballet (Dinamarca) e acabou ficando mais famosa. Mas há uma diferença básica entre elas: na de Taglioni/Lacotte tem mais ênfase nos braços que são mais arredondados, devido à influência de Carlo Blassis a Phelippe Taglioni; e na de Bournonville, a ênfase maior é nos saltos e baterias.
12) Não só a versão de Taglioni revelou uma grande bailarina, mas versão de Bournonville também revelou uma estrela: Lucille Grahn, bailarina dinamarquesa, que mais tarde dançaria também na Ópera de Paris junto com Marie Taglioni e outras estrelas.
13) Mais tarde, quando Taglioni já havia aposentado as sapatilhas, uma outra bailarina a chamou a atenção dançando o mesmo ballet. A partir de então, Marie Taglioni decidiu ensaiar Emma Livry. A Ópera de Paris, que à época estava sem grandes bailarinas, precisava de uma estrela e agora teria encontrado. Marie chegou a fazer um ballet só para Livry, Le Papillon, mas em algum ensaio, Livry, pegou fogo devido às lâmpadas de gás, e veio a falecer em decorrência das queimaduras com apenas 20 anos de idade.
14) Existe um homônimo deste ballet chamado “Les Sylphides”. “La Sylphide” e “Les Sylphides”, têm em semelhança o nome, as mesmas criaturas míticas e o figurino, podendo ser confundidos, mas são diferentes. O primeiro deles pertence à Era Romântica, e o segundo é um balé em um ato, criado para os Ballets Russes de Serguei Diaghilev. Baseado em obras do músico Frédéric Chopin, coreografado por Michel Fokine e com figurinos de Alexandre Benois. Foi encenado pela primeira vez em 2 de junho de 1909 no Théâtre du Châtelet em Paris e não tem uma história, ao contrário do seu homônimo. Por ter músicas de Chopin, foi chamado de “Chopiniana” antes de se chamar “Les Sylphides”, troca essa sugerida pelo próprio Diaghilev.