A partir do momento que você escolhe, ou melhor, se reconhece como artista, você precisa saber que jamais seguirá uma vida linear. Ao contrário disso, para um artista seguir vivendo da sua arte é preciso ser flexível, persistente e muito versátil.
Quando se percebe que viver da dança é muito além de ser bailarino de uma companhia, parece que um mundo se abre e, ao mesmo tempo, é possível ter um certo alívio de que, por mais oscilante que seja, é mais possível viver da dança do que parece. Antes de um bailarino de uma Cia subir no palco, existe um mundo inteiro ao redor.
Cias de dança, não correspondem a nem metade dos profissionais que vivem da dança no Brasil. E neste texto, vamos refletir sobre todos os artistas-bailarinos/dançarinos que escolheram um ofício que demanda muito além de habilidades físicas ou criatividade.
Bailarino, professor, coreógrafo, produtor, diretor, editor, captador, curador, iluminador, cenógrafo, figurinista, costureira, maquiador… temos profissionais que se dedicam brilhantemente a cada uma dessas profissões listadas acima. Estudaram, pesquisaram e realizam seus devidos trabalhos. Um profissional da dança, quando perceber, já terá absorvido habilidades de grande parte destas categorias. E além disso, não se esqueçam de que hoje, vivemos em uma era digital onde quem não se autopromove, não é lembrado. Incluiremos então: influenciador digital? Blogueiro? Escolhe aí.
A autopromoção é uma habilidade essencial para qualquer artista que hoje deseja alcançar sucesso e reconhecimento em sua carreira. Embora muitos artistas prefiram se concentrar apenas em sua arte, é importante compreender que a autopromoção é uma parte fundamental do processo de divulgação e crescimento como profissional.
Nossas mídias sociais, viraram nosso portifólio, aceitando ou não, é uma realidade. Elas aumentam o nosso alcance, facilitam a comunicação com quem não conhecemos como também nos permitem filtrar, editar e manipular. Não à toa que deve ser conduzida com muita responsabilidade, afinal somos artistas e formadores, ou melhor, influenciadores de opinião. Mas essa é uma discussão complexa e que abrange todas as profissões atualmente.
O cenário é o seguinte: professor de dança com turmas infantis, juvenis e adultas. Dentro disso já é necessário, além do conteúdo prático, preparar as coreografias para o espetáculo. Pensaremos na movimentação, num figurino legal, na maquiagem e cabelo, é preciso editar a música e planejar a iluminação, ensaiar, ensaiar, ensaiar e de quebra tentar solucionar o buraco que o aluno deixou por ter faltado. Por incrível que pareça, esse trabalho todo deu um enorme prazer e decide-se ir além. Porque não se arriscar e tentar criar um espetáculo próprio? Não podendo abrir mão das turmas, vamos achar um elenco, criar um roteiro, montar uma trilha sonora, coreografar, recoreografar, pegar uma pauta num teatro, divulgar, conseguir plateia, roupa, luz, som, ação! Ficou bom? Escreve o projeto, coloca numa lei de incentivo, capta recurso, planeja, entra em temporada, e repete e repete… ah e não se esqueça do post as 18h!
Não é fácil, mas trata-se de uma grande parcela de quem escolheu viver de dança. Precisa ser multifacetado para evoluir seu trabalho e novamente: flexível, persistente e muito versátil. Porque ainda sim escolhemos viver da arte? Finalizo com a seguinte frase:
“Sempre mencionam como é difícil ser artista, mas ninguém imagina como é difícil para o artista não ser artista.”
Por: Raissa Bastos – Professora, Bailarina, Coreografa e Produtora Cultural. (@raissabastos)