Fisicuda!

Quem nunca ouviu essa expressão no meio da dança? Afinal de contas, todo mundo usa para identificar aquela bailarina flexível, com perna em “X” e um belo cou de pied.
Mas hoje eu venho trazer uma reflexão importante: “Existe mesmo físico de bailarino?”
Durante os meus 9 anos de formação como bailarina eu pude perceber que algumas bailarinas tinham muito físico e facilidades e outras não tinham tanto.
 
Mas desde cedo eu percebi que ter um físico super cheio de “qualidades” não era garantia de uma carreira de sucesso, e da mesma forma que uma aluna sem os atributos mais desejados também poderia se tornar uma grande bailarina.
Depois vieram juntos a faculdade de fisioterapia e a formação em Pilates, e mais 17 anos de sala de aula, ensinando, decompondo e buscando entender o que acontecia no corpo das minhas alunas para poder ajudá-las o máximo que eu pudesse a alcançar seus objetivos.
 
Depois disso tudo, posso afirmar que físico de bailarino não existe. Todo corpo pode dançar! Principalmente porque a dança é arte e a técnica é o meio que usamos para transmiti-la.

No entanto existem algumas características anatômicas estruturais que podem facilitar a técnica, melhorar as linhas ou até mesmo, em casos extremos, impedir que uma bailarina dance adequadamente nas pontas. Vamos entender como isso acontece?

 
Nosso corpo é constituído por diversos tipos de tecidos, entre eles, ossos, ligamentos e músculos. Os ligamentos e músculos são tecidos que possuem uma certa capacidade plástica, ou seja, se modificam para se adaptar a demanda de movimento da técnica, mas os ossos não possuem essa capacidade. Desta maneira, as características que são determinadas pela estrutura óssea não podem ser modificadas, e com isso, professor, aluno e fisioterapeuta, podem juntos buscar entender como essa estrutura óssea se apresenta para buscar o melhor alinhamento para cada aluno.
 

Como acontece com a abertura da bacia, que determina a capacidade de lateralidade da perna em relação ao corpo, o alinhamento do membro inferior se está em geno recurvatum ou genu flexo, valgo ou varo. Mas o maior exemplo disso é o en dehors. Uma boa parte da rotação externa do quadril é determinada pela forma dos ossos do quadril e pela organização dos ossos do membro inferior (fêmur, tíbia e tornozelo). Mas, ao contrário do que os bailarinos imaginam, não ser tão en dehors não quer dizer que viver de dança é impossível. Quando entendemos nossos limites, começamos a dominar o movimento, e a usá-lo ao máximo, de forma segura.

Muitos fisioterapeutas e professores de dança têm se especializado em estudar o comportamento do corpo humano na dança, e com isso o desenvolvimento dos mais diferentes tipos de físicos tem se tornado cada vez mais real.
 

A busca pelo corpo, técnica e estética da dança deve seguir alguns passos para que ela seja minimamente saudável.

 
1 – Entender e reconhecer suas características principais: sou flexível? Sou en dehors? Meu arco de pé tem uma boa linha? Minha perna pode ficar ao lado do corpo? Minhas costas são boas para os arabesques? Consigo saltar bem?  Ao invés de se comparar com os outros bailarinos, desenvolva o seu corpo.
2 – Buscar desenvolver as características mais fracas: melhorar a mobilidade e a flexibilidade, melhorar a força nos pés e pernas, controlar o en dehors, arquear e sustentar melhor as costas, por exemplo. Ao invés de continuar investindo no que você já tem de bom.
3– Quando encontrar uma barreira física estrutural, ou seja, uma característica que não conseguiremos mudar, precisamos usar de artifícios e recursos para nos aproximarmos bastante da estética ideal desejada.
 

Mas, caro leitor, sim, existe uma amplitude articular que é fundamental para o desenvolvimento das bailarinas clássicas. Na minha opinião, o único fator que pode dificultar ou afastar uma bailarina do seu caminho em direção à profissionalização, é o arco de movimento do tornozelo. 

 
É descrito na literatura que para estar apta a alcançar o alinhamento necessário para dançar nas ponta, é preciso que a aluna desenvolva um arco onde movimento tal coloque a fíbula, maleolo latera e quinto metatarso alinhados. Caso contrário ela pode não conseguir um bom apoio para se manter nas pontas, o que em algum momento pode dificultar o desenvolvimento da técnica ou até mesmo levar ao desenvolvimeto de lesões nos tendões.
Mas como eu disse acima, hoje os bailarinos podem contar com uma série de profissionais aptos a guiá-los nessa busca.
 
Eu tenho a sorte de poder ajudar muitas bailarinas e bailarinos a entender melhor o seu corpo, a explorar seu potencial máximo e principalmente a dançar com o mínimo de lesões e queixas.

Todos os dias desenvolvemos um trabalho pautado na individualidade e na excelência técnica. E os resultados têm sido muito satisfatórios.

Portanto, quando você estiver em dúvida de sua capacidade ou achando que você não é “fisicuda”, troque essa dúvida por trabalho! Busque ajuda, estude, observe e trabalhe com seriedade, que o resultado vem.

 

Por: Carol Lima  & Physio4Dancers 

Fisioterapeuta especializada em dança

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