Mercedes Baptista: Primeira bailarina negra a ingressar no corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro

A história de Mercedes Baptista não seria diferente da história das muitas meninas negras e pobres que existe em nosso país, onde as dificuldades econômicas, o baixo nível de escolaridade e o racismo à brasileira as levam para subempregos e a repetição de uma saga ou destino do qual não conseguem fugir. Contudo, dois fatores fizeram com que a bailarina fugisse deste caminho: A perseguição obstinada de um sonho e o total apoio de sua mãe.

Mercedes nasceu em Campos dos Goytacazes em 1921, filha de uma empregada doméstica- Maria Ignacia. Seu pai pouco se sabe, em uma entrevista na década de 1960, ela conta que ele era um tratador de cavalos, mas que tivera pouco contato. Desde pequena a jovem tinha um sonho: queria ser famosa. Ela não sabia como, mas queria ser famosa. Para tentar oferecer novas oportunidades para filha, Maria Ignácia se mudou para a Capital e veio morar no Grajaú, se empregando em casa de família para garantir teto e comida para ela e sua filha.

O primeiro contato de Mercedes Baptista com a dança foi em 1945, no Serviço Nacional do Teatro dirigido pela bailarina Eros Volusia. Um ano depois, em busca de maiores oportunidades, a bailarina ingressou na Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal sendo aluna de Yuco Lindberg.

Em paralelo, a busca pela fama a levou ao 2º concurso “A mais bela Mulata” promovido pelo Teatro Experimental do Negro em 1947. Neste evento, para além de marcar a vitória de Mercedes Baptista, marca seu encontro com um dos lideres do movimento negro na época: Abdias Nascimento. Assim, surge uma grande amizade, uma grande parceria profissional que durará até o falecimento de ambos.

Em 1948, um concurso interno para ingresso no corpo de baile era a oportunidade profissional de bailarina. As provas estavam dividas em 5 etapas, aprovada nas quatro primeiras, Mercedes não fora avisada da ultima etapa e depois de muita tivera que realizar a prova com os rapazes. Aprovada, junto com o bailarino Raul Soares se tornam os primeiros negros a ingressarem na casa. Contudo, a bailarina nunca fora escalada para dançar ballets clássicos de repertório, dançava moderno, ballets com temas brasileiros e sobretudo participava das operas. É muito famosa, na casa, sua participação na opera Aida, pela beleza de seu corpo e de seus movimentos.

A chance de mudança acontece em 1950 durante o Congresso Internacional do Negro Brasileiro. Naquele momento, a antropóloga, pesquisadora, coreografa e bailarina negra norte americana Katherine Dunham, chegam ao Brasil para ministrar curso e oferecer uma bolsa de estudos para um negro brasileiro que se destacasse em suas aulas. Mercedes fora a ganhadora e viaja para os EUA. Em retorno, a partir do que aprendera com a mestra cria a dança afro-brasileira e passar a ocupar/ apresentar como bailarina, coreografa e professora em diversos espaços como: o Teatro de revistas, televisão, cinema, carnaval entre outros. Em muitos deles sendo a precursora, como no carnaval, onde é considerada a introdutora dos passos marcados.

Ao longo de sua carreira, Mercedes Baptista oportunizou diversos negros e negras pobres e de baixa escolaridade, provocando grandes transformações em suas vidas. Como exemplo, podemos destacar a cantora Elza Soares que recebeu uma de suas primeiras oportunidades cantado junto com o Ballet Folclórico Mercedes Baptista.

Certamente a trajetória da bailarina não foi fácil, mas ela conseguiu transformar um sonho em realidade, lutando contra todas as adversidades. Assim, neste momento em que buscamos histórias e representatividades negras, Mercedes Baptista pode ser considerada como um símbolo da dança e resistência negra.

Ela faleceu no dia 18 de abril de 2014. Atualmente, muitas cidades, a partir de um projeto apresentado na câmara dos vereadores de Porto Alegre, este dia é celebrado o dia da “dança afro brasileira” em homenagem a grande artista.

Para conhecer mais sobre a vida pessoal e artística de Mercedes Baptita, leia:

Mercedes Baptista: A dama negra da dança de Paulo Melgaço da Silva Junior, publicado em 2021 pela editora Ciclo Continuo.

 

Por: Paulo Melgaço da Silva Junior (Professor, pesquisador e biografo de Mercedes Baptista)

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