Balletomania – O boom da dança nos anos 60 e 70  

Balletomania – extraordinário entusiasmo pela dança – ressurge de tempos em tempos. Durante as décadas de 1960 e 70, uma junção de sorte, talento, criatividade, visão, política e dinheiro criou o que é carinhosamente lembrado como o boom da dança.

O ballet, geralmente relegado para o final da seção de artes, estava na frente da página. Dançarinos de destaque em deserções altamente carregadas da União Soviética chamaram a atenção do mundo. Os mais proeminentes – Rudolf Nureyev, Natalia Makarova e Mikail Baryshnivok – provocaram um renascimento no classicismo, no ballet clássico. Os ballets não clássicos também foram revividos, e obras-primas meio esquecidas foram apresentadas. Novos ballets de primeira linha também apareceram. O Ballet abordou questões políticas e sociais. Ballet era a moda.

E havia dinheiro para isso. O ballet gostou do abraço da classe média. Durante as décadas de 1960 e 1970, o governo federal estabeleceu o Fundo Nacional para as Artes, estados individuais criaram suas próprias concessões artísticas, e organizações privadas como a Ford Foundation deram generosamente à dança e educação em dança.

Hoje, uma dançarina russa pode se mudar para Nova York sem muita dificuldade. Antes da queda do comunismo, era impensável. A Rússia soviética simplesmente não permitiu que pessoas, especialmente bailarinas premiadas, emigrassem. Em suas poucas viagens a países ocidentais, dançarinos soviéticos estavam sob vigilância constante; eles não teriam permissão para sair em turnê se o governo tivesse suspeitas sobre eles. Os dançarinos viviam com medo de que o governo retaliasse as famílias deixadas para trás; eles tinham que assumir que, se cometerem defeitos, nunca mais verão seus entes queridos ou sua terra natal. A liberdade artística custava um preço enorme e implicava um risco enorme.

Nureyev dominou o palco com seu magnetismo e colocou a dança masculina no centro das atenções. Makarova possuía uma linha requintada e frases expressivas sobre uma técnica formidável. Baryshnikov será justamente lembrado por seus surpreendentes saltos e reviravoltas, e como eles pareciam surgir do nada. Eles simplesmente aconteceram, sem nenhuma preparação óbvia e sem “ta-dah” no final. Ele metamorfoseou em seus papéis, seja nos clássicos ou em outras obras feitas especialmente para ele.

A dança não tinha sido tão desanimada, pelo contrário, havia um grande talento, tanto estrangeiro – Carla Fracci e Erik Bruhn, por exemplo – quanto nativo. Muitos excelentes dançarinos da época foram ofuscados pelos desertores e pelo frisson proporcionado pela política da Guerra Fria. Mas em suas danças e repreensões dos clássicos, esses exilados trouxeram nova emoção e drama ao ballet.

 Os ballets do século XIX receberam um impulso e os clássicos do futuro estavam em plena produção. Na Europa, Cranko, MacMillan e Ashton coreografaram ballets importantes e duradouros. Em Nova York, Arthur Mitchell fundou o Dance Theatre of Harlem. No New York City Ballet, Balanchine e Robbins criaram alguns de seus melhores trabalhos para os distintos bailarinos da companhia. Com a mudança do NYCB para o Lincoln Center em 1964, o advento da dança na televisão e a apresentação de seus ballets por outras companhias, os trabalhos anteriores de Balanchine finalmente alcançaram um público mais amplo. E assim como seus críticos disseram que ele ficou sem inspiração, houve um derramamento de criatividade. O Stravinsky Festival de 1972 ofereceu vinte e duas estreias em uma semana, sendo dez por Balanchine.

Robert Joffrey demonstrou como o ballet poderia despertar a plateia para protestos políticos. O Joffrey Ballet reviveu ballets importantes, mas raramente vistos, de um passado distante e não tão distante (também apresentou novos trabalhos de coreógrafos desconhecidos como Tharp, Dean, Forsythe, Morris e Gerald Arpino). Em 1967, Joffrey reviveu o ballet anti-guerra de 1932 de Kurt Joss, “A Mesa Verde”. Dois anos depois, quando a Guerra do Vietnã estava no auge, Joffrey, em uma substituição de última hora na noite de uma manifestação anti-guerra, colocou “A Mesa Verde” no programa. Durante essa apresentação, cada dançarino vestiu uma braçadeira preta quando seu personagem foi levado pela Morte; sua aparição final no grupo criou um protesto silencioso e eloquente. Os membros da plateia foram levados a seguir os dançarinos, liderados por Rebecca Wright e Cristian Holder, nas ruas de Nova York para participar da manifestação.

Enquanto isso, aqui no Brasil, também tivemos um momento da dança na época dos anos 60 e 70. No ballet clássico tivemos algumas estrelas como Eleonora Oliosi, que vai ser a primeira brasileira a ganhar premiação no Concurso Internacional de Varna na Bulgária, uma espécie de “Olimpíadas do Ballet” (essa competição foi fundada em 1964, existe até hoje, ocorrendo de dois em dois anos).

Outra estrela nossa dessa época foi Ruth Lima, que teve sua carreira não só no Brasil, mas se tornou um dos grandes nomes da dança no mundo. Foi também primeira bailarina no teatro municipal nos anos 60 e aqui no País vai ser quem inicia a geração de bailarinas com o físico magro e com linhas (depois dela, Nora Esteves e Cecília Kerche). Fez sucesso em papéis como “Les Shylpides” e “O Lago dos Cisnes”, além de outros ballets. Ao longo de duas décadas, formou três gerações de bailarinas — grande parte oriunda de comunidades carentes de Santos — que superaram a pobreza através do talento artístico vindo a integrar o Corpo de Baile do Teatro Municipal Brás Cubas.

Uma terceira estrela brasileira da época que podemos falar é Aldo Lotufo. Ele foi primeiro bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Mas na verdade, a carreira de Aldo já havia deslanchado nos anos 50, ao dançar como partner de Bertha Rosanova, mas este bailarino chegou a dançar com mais 3 gerações de bailarinas e foi o bailarino que mais viveu papéis de príncipes no TMRJ.

Além de grandes estrelas do ballet, aqui no Brasil, tivemos também alguns acontecimentos marcantes. Um deles foi Margot Fonteyn dançar aqui no Rio de Janeiro no Maracanãzinho ao lado de Rudolf Nureyev. Dalal Achcar trouxe esses dois brilhantes bailarinos internacionais para brilharem aqui em nossos palcos e ajudar a popularizar a dança no nosso país.

O jazz começa a surgir por aqui contando com, entre outros colaboradores, o grupo Dzi Croquetes que originaria o “jazz dance”. Além disso, o casal Klauss e Angel Vianna começam a desenvolver a nossa dança contemporânea, que vai se basear em obras literárias. Mais tarde, em 1975, o casal vai fundar sua escola, primeiramente chamada de Centro de Pesquisa Corporal – Arte e Educação. Inauguraram assim, o primeiro curso de formação de bailarinos contemporâneos no Rio, atualmente chamada Escola e Faculdade Angel Vianna, e que oferece cursos de graduação e pós-graduação.

E essa foi a Balletomania de 1960 e 70 com tantos talentos da dança. Será que teremos uma nova? Quais seriam os próximos grandes talentos de um futuro entusiasmo pela dança?

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